Estátua de Borba Gato, Santo Amaro, São Paulo, Brasil
- Fotografia e Nostalgia

- 7 de out.
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Estátua de Borba Gato, Santo Amaro, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Texto 1:
A estátua de Borba Gato, implantada na confluência das avenidas Santo Amaro e Adolfo Pinheiro, divide opiniões desde sua inauguração em 27 de janeiro de 1963. Tanto pela homenagem à controversa figura do bandeirante santamarense, que empreendeu expedição a Minas Gerais em busca de esmeraldas, quanto pela solução estética adotada pelo seu autor.
O escultor Júlio Guerra trabalhou seis anos na execução da estátua. Utilizou trilhos de bondes para a montagem da estrutura de concreto, posteriormente revestida de pedras coloridas de basalto e mármore. O resultado é um mosaico tridimensional com cerca de 13 metros de altura e 20 toneladas. Trajando roupas do século XVII, Borba Gato mantém-se em posição ereta, com o olhar perdido no horizonte e segurando um enorme trabuco em posição de descanso. O pedestal, revestido de granito rústico, mede aproximadamente 2 metros de altura.
Atrás da estátua, cerca de 25 metros de distância, uma estrutura em forma de cubo é recoberta por quatro painéis em mosaico de pastilhas, com cenas evocativas de personalidades e fatos ligados à história de Santo Amaro: Anchieta e Caiubi, tendo ao centro o brasão de Santo Amaro e o rio Jurubatuba; João Paes e Suzana Rodrigues doando à nova capela a imagem de Santo Amaro, que emprestou o nome àquela região; os primeiros colonos alemães e a primeira fábrica de ferro da América do Sul; o poeta Paulo Eiró e o Padre Belchior de Pontes.
A inauguração do gigante de pedra e concreto integrou os festejos do IV Centenário de Santo Amaro. Além de discursos, Borba Gato foi saudado por um desfile com os tradicionais romeiros de Pirapora, populares vestidos de bandeirantes, índios e damas antigas, carros de boi e uma canoa como as usadas pelos bandeirantes. Um show com artistas do rádio e da TV encerrou a festa.
Querido por uns, considerado de mau gosto por outros, o velho Borba Gato, alheio às críticas, tornou-se um reconhecido cartão-postal da cidade, imediatamente associado ao bairro de Santo Amaro. Texto do DPH.
Texto 2:
Localizado na confluência das avenidas Santo Amaro e Adolfo Pinheiro, está um monumento polêmico - uns gostam, outros detestam - mas que é o marco daquela região da zona sul da Capital. Obra do escultor Júlio Guerra (1912-2001), que nasceu no bairro, a homenagem ao bandeirante Borba Gato foi inaugurada em 1963, nas comemorações do IV Centenário de Santo Amaro.
A estátua de concreto, que demorou seis anos para ser construída, tem dez metros de altura e estrutura feita com trilhos de bonde. É revestida por basalto e mármore, o que a classifica como mosaico tridimensional, já que os diversos tipos de pedras definem as feições e o vestuário de Borba Gato. O monumento pesa 20 toneladas, sendo que só a cabeça, que foi a parte mais difícil de ser colocada por ter sido necessário içá-la por mais de dez metros de altura, tem três toneladas.
Considerado um dos cartões-postais de São Paulo, a estátua de Borba Gato suscita polêmica primeiramente por questões estéticas. Em segundo lugar, pela trajetória do bandeirante Manuel de Borba Gato, nascido em 1649 no bairro de Santo Amaro, que levanta discussões.
Borba Gato foi genro do também bandeirante Fernão Dias, com quem saiu em expedição em 1674 com a finalidade de alcançar Sabarabuçu, o Eldorado, em busca, por sete anos, de jazidas de esmeraldas e prata. Fernão Dias morreu em 1681 e Borba Gato prosseguiu adiante e acabou achando o ouro.
Entre 1682 e 1700, Borba Gato ficou foragido nos sertões de Minas Gerais e São Paulo acusado de ter assassinado o administrador-geral das minas D. Rodrigo de Castel Blanco. O perdão real pelo crime veio em 1700, quando Gato foi nomeado guarda-mor do distrito de Rio das Velhas (atual Sabará/MG).
Borba Gato foi o líder dos paulistas na Guerra dos Emboabas (1707-1709) travada pelo direito de exploração das recém-descobertas jazidas de ouro, na região de Minas Gerais. Ela contrapôs os paulistas, que haviam descoberto a região das minas e que por esta razão reclamavam a exclusividade de explorá-las, com os portugueses e imigrantes das demais partes dos Brasil atraídos à região pela febre do ouro. Os paulistas perderam o conflito, em função da intervenção do governador do Rio de Janeiro, e o direito de exploração do ouro passou à Coroa portuguesa.
Borba Gato ainda ocupou por várias vezes a Superintendência Geral das Minas. Faleceu em 1717, quando exercia o cargo de juiz ordinário na Vila Real de Sabará (MG), com cerca de 90 anos de idade. Texto da Alesp.
Texto 3:
Os bandeirantes não eram flor que se cheire, apenas nas três primeiras décadas do século XVII, eles mataram ou escravizaram 500 mil indígenas. A alcunha de “maiores criminosos de seu tempo” é mais do que merecida: assassinaram crianças, mulheres e idosos, arrasaram vilas e as famosas missões jesuíticas, o que lhes rendeu a antipatia de Roma — o papa os excomungou no atacado e no varejo. Mas, curiosamente, o alvo de tantos ataques de radicais de extrema-esquerda, que chegaram a incendiar sua estátua no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, acusado de ser um genocida e escravizador de indígenas, Manuel de Borba Gato é um dos poucos bandeirantes que nunca fez isso.
Muito de sua fama deve-se as crueldades praticadas por outros bandeirantes famosos, como Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias. Foi Raposo Tavares, Manuel Preto e sua tropa de dois mil índios, 900 mamelucos e 69 paulistas que pela primeira vez atacaram uma redução jesuítica, em 1629. Em apenas uma missão, escravizaram dois mil índios e mataram quem não se rendeu ou tentou fugir.
Os paulistas “com espadas, machetes e alfanjes lhes derribavam as cabeças, truncavam braços, desjarretavam pernas, atravessavam corpos. Provavam os aços de seus alfanjes em rachar os meninos em duas partes, abrir-lhes as cabeças e despedaçar-lhes os membros”, conforme descreveu um jesuíta. Ao voltar para São Paulo, os bandeirantes matavam velhos, crianças e doentes que atrasassem a viagem, e davam seus restos mortais de comer aos cães. Raposo Tavares afirmava ser cristão, mas por seus crimes foi excomungado. Morreu pobre e abandonado.
Fernão Dias foi atrás da lenda indígena de Sabarabuçu, uma mítica serra cheias de pedras preciosas. Para perseguir esse sonho, abandonou a mulher doente e vendeu joias das seis filhas para financiar a viagem, deixando-as na miséria. Não hesitou em enforcar o próprio filho, José Dias, quando este se rebelou e liderou um motim. Morreu vitimado pela malária, acreditando piamente que tinha encontrado esmeraldas na lagoa de Vupabuçu, em Minas Gerais — eram apenas turmalinas.
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), grupo radical de extrema-esquerda, publicou um tuíte afirmando que “Borba Gato foi um assassino que entrou para a história por dizimar e escravizar a população indígena originária do Brasil.” Assassino, sim, mas não de indígenas.
Borba Gato era casado com Maria Leite, filha de Fernão Dias, e, após a morte do sogro, em 1681, decidiu continuar à procura de esmeraldas e ouro na região do Rio das Velhas, em Minas Gerais. De olho no possível tesouro, a Coroa Portuguesa enviou à região Dom Rodrigo Castelo Branco, que ocupava o cargo de superintendente geral das minas. Castelo Branco não foi exatamente bem recebido por Borba Gato, que se sentiu ameaçado pela presença do cobrador de impostos vindo de Portugal. O resultado da arenga foi desastroso para ambos.
“Por ocasião da ida do administrador-geral das minas Dom Rodrigo de Castelo Branco àquele sertão, teve desinteligências com esse delegado régio, resultando assassiná-lo de emboscada, numa estrada que ia ter à feitoria do Sumidouro, em 28 de agosto de 1682”, escreveu o historiador Francisco de Assis Carvalho Franco em seu clássico “Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil”. O historiador paulista Pedro Taques deu mais detalhes sobre o acontecido: Borba Gato, “arrebatado de furor”, deu “um violento empuxão” em Dom Rodrigo, lançando-o da beira de um buraco “ao fundo do qual caiu morto”.
No livro “Negros da Terra: Índios e Bandeirantes na Origem de São Paulo”, o americano John Manuel Monteiro, especialista em história indígena, afirma que é “bastante provável que esta expedição tenha descoberto ouro, o que explica em parte o assassinato de Dom Rodrigo Castelo Branco pela mão de Manuel da Borba Gato.”
Após o assassinato, Borba Gato passou nada menos que 18 anos escondido entre indígenas — estes que ele dizimou e escravizou, de acordo com o MTST. Ele se refugiou entre a tribo dos Mapaxós (atualmente denominados Botocudos) “vivendo entre eles, respeitado como um cacique”.
Diferentes versões sobre a data na qual ele voltou a São Paulo circulam entre os historiadores, mas todas se situam entre 1697 e 1700, quando o assassinato de Dom Rodrigo foi perdoado pelo governador Artur de Sá e Meneses, em troca, é claro, da localização das minas de ouro. Além do perdão, Borba Gato recebeu, dois anos mais tarde, o título que antes pertencia ao assassinado, e se tornou superintendente geral das minas do Rio das Velhas. Sá e Meneses fundamentou o perdão afirmando que foram desconhecidos que mataram Dom Rodrigo. Em 1834, o historiador baiano Baltazar da Silva Lisboa colocou a culpa do assassinato em um criado de Borba Gato.
Borba Gato faleceu em 1718, quando ocupava o posto de juiz ordinário da Vila de Sabará. Texto de Jones Rossi.
Texto 4:
Os vândalos que incendiaram a estátua de Borba Gato em São Paulo, dizem pertencer a um grupo chamado "Revolução Periférica", mas não está claro que tipo de revolução eles pretendem alcançar por meio da destruição de estátuas.
Podem existir inúmeros motivos para não gostar do monumento ao bandeirante em Santo Amaro, na zona sul da capital paulista — desde os históricos, por homenagear um homem que se dedicou a caçar e escravizar indígenas (ou não), até o estéticos, por parecer um boneco de Playmobil falsificado gigante. Mas queimá-lo não vai mudar o passado nem o que dele sobrou no presente, como o racismo e a desigualdade social.
A derrubada de monumentos com personagens escravagistas ou imperialistas virou tendência em vários países a partir dos protestos motivados pela morte de George Floyd pela polícia de Minneapolis, nos Estados Unidos, em 2020.
Alguns manifestantes acharam uma boa ideia derrubar não apenas estátuas de antigos líderes escravistas do sul do país, como também de heróis nacionais, alguns dos chamados "pais fundadores" da república americana, como George Washington, Thomas Jefferson e James Madison, por terem sido proprietários de escravos mais de dois séculos atrás. Até monumentos ao navegador Cristóvão Colombo foram vandalizados.
Historiadores que defendem esse movimento de destruição de estátuas lembram que a narrativa histórica é "mutável" e que a própria derrubada de monumentos é um "ato histórico".
Há quem refute esse tipo de argumento dizendo que não se pode medir pela régua de hoje personagens históricos que viviam sob os padrões morais de séculos atrás. Eu nem vou tão longe (até porque esse tipo de raciocínio também é usado para relativizar, por exemplo, os assassinatos cometidos por Che Guevara em nome da Revolução Cubana, entre outras atrocidades da história).
Tudo bem querer livrar a paisagem urbana de homenagens a figuras que simbolizam um passado nefasto. Mas, se for para fazer isso, que seja fruto de um debate democrático, não de atos de violência ou crimes de vandalismo. Quem quiser a derrubada do Borba Gato que faça abaixo-assinados e manifestações pacíficas, e convença um grupo de vereadores a abraçar sua causa, por exemplo.
Precisará também convencer a parcela dos cidadãos que acham que todas as estátuas devem ficar de pé, seja qual for o seu simbolismo, justamente como forma de lembrar do passado e refletir sobre ele.
Já vou avisando, porém, que se trata de um esforço fútil. Derrubar o Borba Gato, além de não mudar o passado nem o presente, iniciaria uma revisão sem fim de monumentos e de nomes de lugares. Palácio dos Bandeirantes teria que se chamar como? O belíssimo e imponente Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, teria de ser reduzido a pó, privando São Paulo de um dos seus cartões postais?
Qual seria o limite desse processo de apagamento? Ruas e avenidas não poderiam mais ter nomes de pessoas. Esculturas em espaços públicos, só com formas abstratas.
Uma alternativa melhor é começar a propor novos monumentos ou memoriais, para homenagear as personalidades que simbolizam aquilo que se quer valorizar atualmente.
Revoluções frequentemente resultam em estátuas derrubadas (muitas cabeças de Lenin, Marx e Stalin foram cortadas após a queda do Muro de Berlim). Mas derrubar estátuas não resulta em revolução nenhuma. Texto de Diogo Schelp.
Nota do blog: Data 2025 / Crédito para Jaf.



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