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A relação histórica entre Índia e Paquistão e a disputa da Caxemira - Artigo

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    Fotografia e Nostalgia
  • 10 de mai.
  • 7 min de leitura

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A relação histórica entre Índia e Paquistão e a disputa da Caxemira - Artigo

Artigo


Texto 1:

O conflito na Caxemira, interrompido neste sábado (10/05/2025) com um cessar-fogo entre Paquistão e Índia, remonta a 1947, quando os países se tornaram independentes do Reino Unido. Sob domínio britânico, as nações faziam parte do mesmo território; divididos, passaram a disputar a região fronteiriça onde nascem rios essenciais para ambos.

Os combates mataram mais de 60 pessoas, segundo informações dos adversários históricos, e levaram à suspensão de um acordo que regulava o uso compartilhado dos rios entre as duas nações desde 1960 e que havia sobrevivido a duas guerras entre os dois países.

Agora, além de romper com o acordo pela primeira vez, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, fechou a única passagem terrestre entre os países.

*Quais as origens do conflito?

Os Estados vizinhos surgiram a partir da dissolução da Índia britânica, com a conquista da independência nos anos 1940. Desde então, há problemas na região fronteiriça —ambos os países reivindicam a posse da Caxemira e disputam o controle das águas.

A diversidade religiosa na região é muito anterior à colonização. Antes da divisão, a maioria da população era hindu. Os muçulmanos representavam cerca de um quarto do total, que incluía sikhs, budistas, cristãos e membros de outras religiões. Durante o período colonial, os britânicos exacerbaram e institucionalizaram essas diferenças, que têm caráter religioso, não étnico, explica a socióloga Mariana Faiad.

*Como foi feita a divisão?

Os líderes da luta pela independência Mahatma Gandhi (1869 - 1948) e Jawaharlal Nehru (1889 - 1964) defenderam a criação de uma Índia unida e multirreligiosa. No entanto, um funcionário britânico, Cyril Radcliffe — que passou apenas três meses na região — traçou as novas fronteiras entre Índia e Paquistão em 1947.

Com isso, o subcontinente indiano foi dividido. A parte central e sul, onde havia maioria hindu, tornou-se a Índia, e as partes noroeste e nordeste, onde a maioria era muçulmana, formaram o novo Estado do Paquistão.

A divisão desconsiderou que a população hindu e muçulmana estava dispersa por todo o território e forçou deslocamentos. "A partilha da Índia e do Paquistão gerou a maior movimentação humana da história até então, com cerca de 15 milhões de pessoas desalojadas e mais de um milhão de mortos", afirma Faiad.

*O que é a Caxemira?

A Caxemira é a região da fronteira entre Índia e Paquistão. Está localizada nos Himalaias, onde fica a bacia do rio Indo, fonte fundamental de água para todo o entorno. Com a partilha, a região foi impedida de se tornar independente. Os britânicos determinaram que, por voto popular, os caxemirenses escolhessem se queriam fazer parte da Índia ou do Paquistão.

Apesar de a maioria da população da Caxemira ser muçulmana, as elites governantes eram hindus. Parte da região foi anexada pelo Paquistão, e o restante se integrou à Índia —mas sua autonomia foi preservada em uma cláusula Constituição.

Assim que conquistaram a independência, em 1947, ambos os países entraram em guerra reivindicando a totalidade da Caxemira. A fronteira atual foi estabelecida com base nos territórios dominados pelas tropas naquele período. A parte que ficou na Índia se tornou o único estado com maioria muçulmana do país.

Em 2019, o premiê Narendra Modi revogou a autonomia da Caxemira indiana. Ele permitiu a compra de terras por estrangeiros e o leilão de áreas para mineração. As políticas de Modi impulsionam o nacionalismo hindu como eixo central da política indiana. Desde então, cresceram os ataques contra muçulmanos e a radicalização de setores islâmicos, agravando tensões religiosas.

*Quais os pontos de disputa?

Desde a partição, os países disputam a Caxemira. Houve três guerras desde então: em 1947 e 1965, disputando a região, e em 1971, quando a Índia apoiou a independência de Bangladesh, que era parte do território não contíguo do Paquistão.

"A Caxemira é a região mais militarizada do mundo, proporcionalmente entre civis e Forças Armadas — mais até do que a Palestina", diz Faiad. Os dois países divergem sobre o uso da água dos rios que cruzam a fronteira e têm armas nucleares.

"O Tratado das Águas do Rio Indo sobreviveu a guerras violentas. Nenhum primeiro-ministro da Índia ousou mexer nele. A decisão de Modi [de suspender o uso compartilhado das águas] é cruel, porque coloca em risco a sobrevivência de 240 milhões de pessoas no Paquistão", afirma a socióloga.

O tratado, mediado pelo Banco Mundial, dividiu o Indo e afluentes entre os dois países, a Índia recebeu o uso da água de três rios orientais, enquanto o Paquistão recebeu a maior parte dos três rios ocidentais.

"O conflito na Caxemira é menos sobre religião e mais sobre acesso a recursos naturais estratégicos, como a água dos rios que nascem nos Himalaias", acrescenta Faiad.

Após a suspensão, o Paquistão declarou que qualquer desvio das águas será considerado um ato de guerra e rejeitou a saída indiana do tratado.

*Qual o estopim?

No dia 22 de abril, um ataque em Pahalgam, na Caxemira indiana, matou a tiros 26 turistas indianos hindus. O grupo Kashmir Resistance a princípio reivindicou a autoria do atentado em uma postagem no Telegram. Este grupo islamista é o braço na Caxemira indiana do Lashkar-e-Tayyiba, designado pela ONU como terrorista e aliado do Talibã.

A mensagem criticava a migração para a Caxemira indiana de mais de 85 mil pessoas de outras regiões do país. Alertava para uma "mudança demográfica" na área de maioria muçulmana, consequência do fim da autonomia em 2019.

Depois, o mesmo grupo afirmou em uma postagem no X que "nega inequivocamente" envolvimento no ataque e atribuiu a postagem anterior a uma "intrusão cibernética".

A polícia indiana atribuiu o ataque a cidadãos paquistaneses, mas não apresentou provas. Três suspeitos foram identificados, dois deles paquistaneses.

A Índia acusa regularmente o Paquistão de apoiar insurgentes armados, e trata toda insurreição na região como terrorismo patrocinado pelo vizinho. O país muçulmano nega envolvimento e afirma apoiar o direito dos caxemirenses à autodeterminação. O ministro da Defesa do Paquistão acusou a Índia de planejar ataques em cidades paquistanesas e ameaçou represálias: "Se a Índia atacar, responderemos olho por olho", disse. Texto de Nathalia Dunker / Folha de S. Paulo.

Texto 2:

O ataque com mísseis da Índia ao Paquistão nas primeiras horas de 7 de maio é o episódio mais recente de um longo conflito com raízes que remontam a mais de sete décadas.

Até 1947, a Índia e o Paquistão faziam parte do mesmo território sob o domínio colonial britânico.

Quando a Índia declarou independência, o território foi dividido em duas partes: uma com maioria muçulmana (o Paquistão) e outra com maioria hindu (a Índia).

Foi um processo que desencadeou uma onda de violência que deixou aproximadamente um milhão de mortos e 15 milhões de refugiados. As consequências desse episódio se estendem até hoje.

A Caxemira, onde ocorreram alguns dos bombardeios, é o centro da discordância entre os dois países.

A seguir, explicamos em três pontos as origens do conflito, que é de particular preocupação para o mundo porque envolve duas nações com armas nucleares.

1. Por que a divisão aconteceu?

Em 1946, a Grã-Bretanha anunciou que concederia a independência à Índia.

O país não conseguia mais arcar com o domínio sobre o país e queria sair o mais rapidamente possível da região.

O último vice-rei, Lord Louis Mountbatten, marcou a data para 15 de agosto de 1947.

Naquela época, a população da Índia era aproximadamente 25% muçulmana. O restante era sobretudo hindu. Mas havia também sikhs, budistas, cristãos e membros de outras religiões minoritárias.

"Os britânicos usaram a religião como uma forma de dividir as pessoas na Índia em categorias", diz a professora Navtej Purewal, membro indiana do Conselho de Pesquisa em Artes e Humanidades (AHRC, na sigla em inglês) do governo britânico.

"Por exemplo, eles criaram listas separadas de eleitores muçulmanos e hindus para eleições locais. Havia cadeiras reservadas para políticos muçulmanos e cadeiras reservadas para hindus. A religião se tornou um fator na política."

"Quando parecia provável que a Índia obteria a independência", diz Gareth Price, do instituto de política externa Chatham House, com sede no Reino Unido, "muitos indianos muçulmanos ficaram preocupados em viver em um país governado por uma maioria hindu".

"Eles pensaram que seriam oprimidos", afirma ele.

"E começaram a apoiar líderes políticos que faziam campanha por uma pátria muçulmana separada."

Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, líderes do movimento de independência, disseram que queriam uma Índia unida que abraçasse todas as religiões.

No entanto, Muhammad Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, exigiu a divisão como parte do acordo de independência.

"Teria levado muito tempo para chegar a um acordo sobre como uma Índia unida funcionaria", diz Price.

"A divisão parecia ser uma solução rápida e simples."

2. Quanto sofrimento a divisão causou?

As novas fronteiras entre a Índia e o Paquistão foram traçadas em 1947 por um funcionário público britânico, Cyril Radcliffe.

Ele dividiu o subcontinente indiano a grosso modo em uma parte central e sul, onde os hindus eram maioria, e duas partes no noroeste e nordeste, em que os muçulmanos eram maioria.

No entanto, havia comunidades hindus e muçulmanas espalhadas por toda a Índia britânica. Isso fez com que, após a divisão, aproximadamente 15 milhões de pessoas se deslocassem — muitas vezes centenas de quilômetros — para cruzar as fronteiras recém-criadas.

Em muitos casos, as pessoas foram expulsas de suas casas pela violência comunitária. O primeiro exemplo disso foram os chamados Assassinatos de Calcutá de 1946, no qual cerca de 2 mil pessoas foram mortas.

"A Liga Muçulmana formou milícias, assim como grupos hindus de direita", conta Eleanor Newbigin, professora de história do Sul da Ásia na Universidade SOAS, em Londres.

"Grupos terroristas expulsaram as pessoas de suas vilas para obter mais controle do seu próprio lado."

Estima-se que entre 200 mil e um milhão de pessoas foram assassinadas ou morreram em decorrência de doenças em campos de refugiados.

Dezenas de milhares de mulheres, tanto hindus quanto muçulmanas, foram estupradas, sequestradas ou desfiguradas.

3. Quais foram as consequências da divisão?

Desde a divisão, a Índia e o Paquistão disputam quem tem o controle sobre a província da Caxemira.

Eles travaram duas guerras por causa disso (em 1947-1948 e em 1965), e também entraram em confronto na crise de Kargil, em 1999, na Caxemira.

Ambos os países reivindicam a província como sua — e atualmente administram diferentes partes dela.

Os dois países também se enfrentaram em 1971, quando a Índia interveio para apoiar o Paquistão Oriental (agora Bangladesh) em sua guerra de independência contra o Paquistão.

Menos de 2% da população do Paquistão é hoje hindu.

"O Paquistão se tornou cada vez mais islâmico, em parte porque grande parte de sua população é agora muçulmana, e há muito poucos hindus lá", diz Price.

"E a Índia está agora mais sob a influência do nacionalismo hindu."

"O legado da divisão é perturbador", avalia Newbigin.

"Criou maiorias religiosas poderosas em ambos os países. As minorias se tornaram menores e mais vulneráveis ​​do que eram antes."

A divisão poderia ter sido evitada, segundo a professora Navtej Purewal.

"Poderia ter sido possível em 1947 criar uma Índia unida. Poderia ter sido uma federação de estados, incluindo estados em que os muçulmanos eram a maioria", diz ela.

"Mas Gandhi e Nehru insistiram em ter um Estado unificado, controlado a partir do centro. Eles, na verdade, não consideraram como uma minoria muçulmana poderia viver nesse tipo de país." Texto da BBC News Brasil.

Nota do blog: Data e autoria não obtidas.


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